Patativa do Assaré. Foto: Biblioteca Pública Estadual do
Ceará
Em 5 de março de 2025, Patativa do Assaré (1909–2002) completaria 116 anos de um legado artístico que atravessou gerações. Em homenagem à sua trajetória, ele Patativa do Assaré. Foto: Biblioteca Pública Estadual do Ceará foi reconhecido, nesta quarta-feira (23), pela Assembleia Legislativa do Ceará como Patrono da Cultura Popular Cearense. O projeto segue agora para sanção do governador Elmano de Freitas (PT).
O texto da proposta destaca o artista como um “gigante da cultura popular nordestina”. Já o autor do projeto, o deputado Assis Diniz (PT), o define como “mais que um canto ou uma poesia, é a expressão viva da dureza do homem sertanejo”.
Muito antes da valorização acadêmica da cultura popular, um homem do interior do Ceará transformou sua vivência no sertão em versos recitados que atravessaram fronteiras. Patativa do Assaré conquistou o Brasil — e o mundo — como poeta, cantador e defensor das causas do povo nordestino. Mas quem foi, afinal, esse homem que se tornou símbolo da resistência cultural?

Antônio Gonçalves da Silva nasceu em 5 de março de 1909, na cidade de Assaré, no Ceará. Na infância, perdeu a visão do olho direito aos seis anos e ficou órfão de pai aos oito, passando a trabalhar na roça para ajudar no sustento da família. Apesar das dificuldades, nada o impediu de trilhar o caminho da arte. Ingressou na escola aos 12 anos e, já em 1922, começou a
compor versos. Logo, passou a cantar, tocar e recitar poesias em festas e feiras populares.
Antônio começou a publicar seus textos no jornal Correio do Ceará e passou a ser chamado de Patativa, em referência ao pássaro nativo da Chapada do Araripe, cuja beleza do canto lembrava suas poesias. Sua obra trouxe à tona os problemas enfrentados pela população do sertão nordestino, como a seca e a pobreza extrema, e foi gravada por artistas renomados, como Luiz Gonzaga e Raimundo Fagner.
A projeção nacional do poeta se deu a partir da gravação de “Triste Partida” (1964), canção que retrata a migração do nordestino para o Sudeste do Brasil, interpretada pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Além de abordar temas sensíveis como forma de denúncia social, Patativa também se engajou em movimentos sociais, como as Ligas Camponesas, e participou da resistência à Ditadura Militar. Foi ainda apoiador do governo Tasso Jereissati (PSDB) e escreveu o poema Inleição Direta 84, em apoio ao movimento das Diretas Já.

Em sua velhice, Patativa do Assaré já estava cego e quase surdo. Faleceu aos 93 anos, em Assaré, em decorrência de uma pneumonia dupla, além de infecção na vesícula e problemas renais. Foi sepultado no Cemitério João Batista, em sua cidade natal.
As obras Inspiração Nordestina (1956) e Cante Lá Que Eu Canto Cá (1978) consolidaram Patativa entre os grandes nomes da literatura nacional. Um ano antes de sua morte, o poeta também se tornou objeto de estudo na Universidade de Sorbonne, na França.
Outras obras de grande destaque de sua autoria incluem Ispinho e Fulô (1988), Aqui Tem Coisa (1994) e Poemas e Canções (1979), este último lançado em LP com produção do cantor Fagner. Também merece destaque A Terra é Naturá (1981), LP que inclui o poema homônimo, e Digo e Não Peço (2001), organizado por Sda de Castro e Danielli de Bernardi. Essas são apenas algumas das muitas criações que compõem o vasto legado de Patativa do Assaré.